Apresentação do tema
Aquilo que pretendo discutir neste
ensaio são as consequências e as implicações editoriais decorrentes da decisão
de editar ou não um livro polémico como The Jewel of Medina, de Sherry
Jones.
Sherry Jones,
jornalista profissional desde 1979, foi vencedora de inúmeros prémios e a sua
obra publicada em revistas como Newsweek, CMJ, Southwest Art
e Rider. É correspondente dos estados de Montana e Idaho do Bureau of
National Affairs, uma agência noticiosa internacional da região de
Washington, D.C., e correspondente da Women's e-News. The Jewel of
Medina é o seu primeiro romance.
Apesar de nunca ter visitado o Médio Oriente,
a autora, movida pelo interesse pelos muçulmanos após os atentados de 11
de Setembro de 2008, passou vários anos a estudar história árabe, pesquisando sobre o profeta Maomé e leu estudos
sobre Aisha, uma das mulheres do profeta. Decidiu então escrever o seu romance
para dar a conhecer ao ocidente a essência do Islão e mostrar como este foi
distorcido pelos radicais islâmicos. Sobre a situação das mulheres no Islão,
afirma que Maomé apoiou mais direitos para as mulheres do que muitos dos seus
seguidores modernos. A autora afirma que escreve conscienciosamente sobre o
Islão e sobre Maomé de uma forma respeitosa e refere que queria contar a
história das mulheres em torno de Maomé, honrá-las, bem como o profeta.
The Jewel of
Medina é um romance que conta a
linda história de Aisha, desde o seu casamento com
Maomé, aos nove anos, até à morte do profeta. É uma história de amor e
intrigas passada no século VII, por altura do nascimento da fé islâmica, um
período de convulsões. O livro aborda o tema da emancipação das mulheres
através de Aisha que usa a sua sabedoria, coragem e a espada para ter o
controlo da sua própria vida, combater a perseguição religiosa, os seus rivais
e defender o estatuto de primeira mulher de Maomé, ainda que o profeta se continue
a casar mais do que uma vez. Aisha acompanha devotamente Maomé na maior parte
do romance, aconselhando-o, e acaba por se tornar uma das mais importantes
mulheres do Islão, defensora acérrima do legado de Maomé.
Publicação
controversa
O processo de
publicação de The Jewel of Medina tem
sido controverso e cheio de contratempos. Segundo
informações da autora à Reuters, a Random House, uma das maiores
editoras dos Estados Unidos, já tinha pago 69
mil euros a Sherry Jones pelo romance e por uma segunda obra. A publicação da obra estava prevista para 12 de Agosto de 2008, estando também preparada uma digressão publicitária
do livro por oito cidades quando rompeu o
contrato. Apesar do livro ter tudo para se tornar um best-seller, a editora
acabou por recusar a sua publicação, depois de a ter adiado.
A decisão da
editora veio a público na coluna de Asra Nomani, escritora e académica
muçulmana, no jornal norte-americano The Wall Street Journal. No seu artigo, Nomani afirma que,
numa entrevista, o subeditor da Random
House, Thomas Perry, representante da editora, informou que a empresa fora aconselhada a ter em conta, «não apenas que a
publicação deste livro poderia ser ofensiva para alguns membros da comunidade
muçulmana, como também incitar à violência por parte de um segmento pequeno mas
radical»[1],
acrescentando que, depois de consultar vários especialistas em Islamismo, a
empresa decidiu, « adiar a publicação, para segurança do autor, dos empregados
da Random House, dos livreiros e de qualquer outra pessoa que esteja envolvida
com a distribuição e a segurança do romance. »¹ A autora do artigo afirma que Denise
Spellberg, professora de História e Estudos do Médio Oriente da Universidade do
Texas e especialista em Aisha, teve um papel fundamental na censura à
publicação do livro e que alertou a editora para os perigos de uma reação de
violência islâmica ainda maior do que a da publicação do livro Satanic
Verses, do escritor Salman Rushdie, em 1988; ou os cartazes dinamarqueses
com caricaturas de Maomé. Numa entrevista Denise Spellberg afirmara que o livro
de Sherry Jones abusava dos factos históricos distorcendo-os, transformando uma
história sagrada em pornografia softcore.
Spellberg frisou depois no jornal americano Wall Street Journal que a decisão tinha sido tomada com base no
parecer de vários estudiosos e considerou que o romance de Sherry Jones era uma
representação errónea da vida de uma mulher real, Aisha, e do passado islâmico,
que usa o sexo e a violência para atacar o profeta e a sua fé. Condenou
ainda o caráter polémico e sensacionalista do livro por usar o sexo e a
violência para vender o livro.
Porém, em
meados de Agosto, Martin Rynjia, 44 anos, editor da editora independente Gibson
Square, anunciou que iria publicar o livro no Reino Unido. Em Setembro foi
encontrada uma bomba em sua casa, em Islington, norte de Londres. A polícia
inglesa, que já estava de sobreaviso, prendeu de imediato os suspeitos da
tentativa de fogo posto. O pequeno incêndio foi apagado imediatamente e ninguém
ficou ferido. Os suspeitos foram acusados de « participação, preparação e incitação
a actos de terrorismo »[2], por
tentar provocar um incêndio no escritório da editora Gibson Square, segundo a
polícia britânica. O editor da Gibson Square esteve sob proteção policial. Martin
Rynjia tem mostrado muita coragem e persistência ao levar avante a publicação
da obra. Entretanto, o livro foi publicado em Outubro
de 2008 pela editora britânica independente, depois de ter sido adiado
por represálias. The Jewel of Medina
teve o seu lançamento no Reino Unido a 30 de Outubro. Martin Rynja, citado em El país classificou de imperativo o lançamento do livro,
afirmando em comunicado :
« Senti imediatamente que era imperativo publicar o livro. Numa
sociedade aberta tem de haver acesso livre a obras literárias apesar do medo.
Como editora independente sentimos que não devemos ter medo das consequências
do debate. Se um romance de qualidade
lança luz sobre um lindo assunto do qual pouco sabemos no ocidente, mas temos
um genuíno interesse nele, e não pode ser lançado cá, então isso realmente
significa que o relógio retrocedeu até à idade das trevas. The Jewel
of Medina tornou-se um importante barómetro do nosso
tempo ». [3]
A
Gibson Square conta com outros trabalhos polémicos publicados,
como o livro Blowing up Rússia (2002),
escrito por Alexandre Litvinenko, o espião russo assassinado por envenenamento
em Londres em 2006 com uma substância radioativa; If I Did It (2007), de O. J. Simpson; e Hard Call (2009), do senador republicano e veterano de guerra John
McCain, ex-candidato às presidenciais nos Estados Unidos.
Em Portugal ainda não foi publicado
o livro de Sherry Jones. A Porto Editora, que analisou o livro, recusou em
Setembro de 2008 a
sua publicação. Ana Barros, editora da DEL-L, tinha assegurado ao Ípsilon
[suplemento do jornal Público] que « se decidirmos que o livro vale a pena publicar porque é interessante
não vamos pensar nas consequências políticas ». Segundo
o comunicado de imprensa da editora portuguesa, pela voz de Manuel
Alberto Valente diretor da Divisão Editorial
Literária de Lisboa (DEL-L), da Porto Editora, a decisão de não publicar
o livro não foi influenciada pela desistência da editora americana: « a Administração da Porto Editora
assegurou-me, desde o início do processo, o apoio imprescindível para uma
decisão livre, sem quaisquer receios e de acordo com os critérios definidos. Se
a decisão fosse a de editar o livro, não haveria quaisquer hesitações »[4]. A decisão baseou-se no
parecer extremamente desfavorável redigido por um dos consultores
editoriais da Porto Editora, a quem o diretor pediu a análise do original.
Segundo Manuel Valente, A Jóia de Medina é « um
romance vulgar, pobremente escrito e pouco convincente nas suas personagens e
enredo»[5]. Manuel
Alberto Valente afirma que esta é uma « decisão
de particular relevância, pois tínhamos possibilidade de lançar um livro com um
enorme potencial comercial. Acabou por pesar o critério fundamental, o da
qualidade literária ». [6]
Eis um excerto do parecer de leitura:
I would not publish this.
I would not publish this.
I look at it from two points of view:
First, as a novel, it is trite, poorly written
and unconvincing in its characters and its plot. It reads like a poorly
researched item in the popular press, or a story in a low-quality women’s
magazine. Second, as a piece of religious provocation, it has the potential to
cause outrage – not because it is particularly offensive concerning Mohammed or
Islam, but because it appears to be so inaccurate historically, that it seems
to deliberately trivialise the Prophet and the religion. Unlike Satanic Verses,
which has a base in serious literary philosophy, this reduces Mohammed’s life
and work, through this banal story about one of his wives, to the level of
schoolgirl fiction. I have to imagine that Ms Jones has done this consciously.
At best, it is in poor taste; at worst, offensive.[7]
O excerto
apresentado aponta duas razões para a não publicação do romance: por um lado a
obra consiste num romance vulgar, pobremente escrito e pouco convincente nas
suas personagens e enredo; por outro pode causar ultraje, não tanto pelo
tratamento ofensivo de Maomé e do Islão, mas porque perverte a realidade dos
factos históricos, trivializando a vida do profeta e a religião.
O romance foi
publicado nos Estados Unidos pela editora Beaufort Books em Outubro de 2008. A Beaufort adiantou,
segundo a BBC, que publica a obra para que o livro possa ser apreciado pela sua
qualidade literária e não como uma potencial ofensa aos muçulmanos. Eric
Kampmann, presidente da Beaufort Books afirma « Achámos que era o melhor para toda a gente... deixar que a conversa
sobre o livro deixasse de ser a dos terroristas e passasse a ser a do mérito do
livro ».[8] Nos Estados Unidos a tiragem inicial ronda os
40 mil exemplares. Para além do Reino Unido e dos EUA, o livro já foi publicado
na Sérvia e tem os direitos vendidos para Itália, Espanha, Hungria, Alemanha,
Brasil e Macedónia. O livro já está a gerar polémica e, consequentemente,
muitas vendas. Já é comparado à « crise religiosa » de Os versículos
satânicos, ou aos cartoons dinamarqueses.
Receio da reação da comunidade muçulmana vs liberdade de expressão
A editora
Random House não publicou o livro por receio de represálias por parte da
comunidade muçulmana radical. Na verdade, no entender dos fundamentalistas, a
representação das figuras sagradas é uma ofensa, sobretudo quando estas são
subvertidas. Quando entendem que Maomé e a fé islâmica estão a ser atacados
organizam manifestações, protestos e violência, em nome da religião muçulmana.
No mundo
islâmico não há separação entre as leis e a religião muçulmana (sharia), a qual é frequentemente
mal-interpretada e distorcida pelos fundamentalistas, em nome de Alá e da fé
muçulmana. Na verdade, o alcorão não é tão restritivo para com as mulheres
quanto os mais fanáticos querem fazer crer. Por exemplo, o Islão não proíbe as mulheres de
trabalhar, atribuindo apenas um papel importante à mulher no desempenho das
funções domésticas e familiares. A religião islâmica também permite às mulheres
que se divorciem dizendo três vezes em público « eu divorcio-me ».
Apesar da
religião muçulmana não considerar a mulher um objeto, em muitos países
islâmicos as mulheres são tratadas como tal, não usufruindo dos mesmos direitos
que os homens. Na Arábia Saudita as mulheres não podem conduzir, mas no
Bangladesh e no Paquistão já é permitido que as mulheres conduzam. No
Paquistão, basta a suspeição de uma mulher poder ser adúltera, ou vítima de
violação, para ser punida de uma forma hedionda, ao passo que, em iguais
circunstâncias, os homens não sofrem os mesmos horrores. Neste país várias
mulheres ativistas têm perdido a sua vida por protestar contra a injustiça das
leis da sharia. No Irão, que tem leis
muito rígidas em relação ao vestuário das mulheres e à sua conduta, há
perseguições às mulheres, que frequentemente são espancadas e aprisionadas caso
ousem afrontar as regras. No Afeganistão um homem muçulmano pode casar-se com
uma menina de 12 anos se assim o quiser, uma vez que isso é aprovado pelos mullahs (líderes religiosos de mesquitas
islâmicas). Muitas mulheres muçulmanas fogem dos seus países de origem para
fugir às leis tirânicas islâmicas.
Em 2006 houve
uma onda de violência na Europa e em vários países muçulmanos por causa das
caricaturas de Maomé, publicadas inicialmente num jornal dinamarquês em 2005,
que foram depois publicadas em vários países da Europa, como França, Espanha,
Itália e Noruega. Houve manifestações da parte da comunidade muçulmana contra a
publicação das caricaturas de Maomé, tendo morrido mais de uma dezena de
pessoas durante esses protestos. Os fundamentalistas chegaram a apelar
explicitamente ao assassinato dos autores das « blasfémias ». Foram atacadas e
incendiadas por manifestantes embaixadas europeias e houve a tentativa de
assassinato de um dos cartoonistas. A intolerância dos elementos mais radicais
muçulmanos perante a liberdade de expressão ocidental e o seu fanatismo
conduzem à violência. Os fundamentalistas não toleram que a sua religião seja
posta em causa, partindo para a « guerra santa », cometendo um rol de
atrocidades, queimando, apedrejando e assassinando. Enquanto nas sociedades
ocidentais é reconhecida a liberdade de expressão e de imprensa, nos países
islâmicos mais radicais ela não é permitida, havendo censura sempre que a
religião é posta em causa.
Tendo em conta
os argumentos da Random House para justificar a não publicação de The Jewel of Medina, vejamos alguns
exemplos da reação de extremistas islâmicos perante publicações polémicas:
Salman Rushdie, escritor indo-britânico, recebeu a 14 de Fevereiro de 1989 uma fatwa (édito religioso) de condenação à
morte pelo líder religioso do Islão, Ayatollah Khomeini, relativamente ao livro
Versículos Satânicos (Satanic
Verses no original), de 1988. O livro, polémico, refere-se a uma discutida
tradição muçulmana segundo a qual Maomé acrescentou versículos de inspiração
diabólica ao Alcorão, que mais tarde retirou ao perceber a sua maléfica
influência. Causou controvérsia imediata no mundo islâmico, pelo que originou,
para além da fatwa, imensos
protestos, manifestações e atos de violência em todo o mundo, incluindo o
incêndio de livrarias e queimas do livro, considerado « blasfémia contra o
Islão », tendo sido banida a sua publicação em muitos países com grandes
comunidades islâmicas. Para além disso, Khomeini, que governava o Irão, condenou
Rushdie pelo crime de « apostasia » - fomentar o abandono da fé islâmica – que, de
acordo com a hadith (corpo
de leis, lendas e histórias sobre a vida de Maomé),
é punível com a morte. Foi anunciado a todos os muçulmanos o dever de
assassinar o escritor e os editores do livro conscientes do seu conteúdo,
conforme a fatwa. Devido a estes factos, Rusdhie foi forçado ao exílio e
a viver sob proteção policial por muitos anos. O tradutor japonês do livro foi
assassinado, o tradutor italiano sobreviveu a um ataque e o editor norueguês
sobreviveu a quatro tiros. No entanto, a editora Viking Penguin, tendo recebido
inúmeras ameaças de bomba, continuou a publicar o livro em capa dura, mas
hesitou em lançar a versão livro de bolso. Na altura, surgiram muitos intelectuais
indignados, condenando os “ayatolahs” (fundamentalistas islâmicos). Vinte anos
depois de Versículos Satânicos,
Rushdie fez fortes críticas à sua editora, Random House, após esta ter mudado
de ideia e ter resolvido não publicar o livro de Sherry Jones por medo de retaliação dos
muçulmanos, considerando a sua atitude censura através do medo. Taslima
Nasreen, nascida no Bangladesh, é outro exemplo de escritora condenada pelos
fundamentalistas islâmicos. Tem escrito sobre o tratamento das mulheres pelo
Islão, nomeadamente dos abusos sexuais de que são vítimas. As suas perspetivas
feministas são vistas como críticas ao Islão e à religião em geral, pelo que
sofreu várias ameaças de morte, vivendo frequentemente em exílio. Naguib Mahfu,
escritor nascido no Cairo, Prémio Nobel da Literatura em 1988, também foi
condenado pelos fundamentalistas islâmicos pela publicação, em 1959, do romance
Os filhos do nosso bairro, Children of Gebelawi na tradução
inglesa. O livro foi banido no Egito devido à controvérsia levantada
pelo recurso a personagens alegóricas, representando Alá, personagens bíblicas
(Caim e Abel) e profetas do Islão, entre os quais Maomé, Moisés e Jesus.
Em 1994,
na sequência dos apelos de um clerical islâmico radical para que o autor fosse
morto por blasfemar nos seus livros contra a religião muçulmana, foi esfaqueado
no pescoço por um fundamentalista islâmico, enquanto saia da sua casa no Cairo.
Estes são alguns exemplos de escritores que geraram polémica por abordarem a
religião muçulmana criticando os aspectos mais condenáveis do fanatismo e por
representarem figuras sagradas. Apesar de terem sofrido as ameaças dos
islâmicos radicais, foram acolhidos pelo ocidente em defesa da liberdade de
pensamento e expressão.
A decisão de publicar um livro que romanceia factos
históricos e religiosos ou não o publicar é polémica, tendo em conta o
historial de reações a obras publicadas alusivas à religião muçulmana e
o historial de condenações de autores acima descrito.
A atitude da Random House de não
publicar o romance em torno de Maomé e Aisha por receio das repercussões
que poderia ter na segurança de
todos os envolvidos na publicação e venda do livro é, portanto, compreensível.
A polémica em
torno da « blasfémia » (segundo os islâmicos radicais) imbrica na liberdade de
expressão, pois, de acordo com o fundamentalismo islâmico está limitado todo o
tipo de expressão e representação de figuras sagradas islâmicas, incluindo a
criação literária. Os ofendidos com The
Jewel of Medina são sobretudo os fundamentalistas islâmicos que não toleram
a representação de figuras religiosas, nem que a sua religião seja posta em
causa nem criticada. Enquanto que no Ocidente já se aprendeu a tolerar as
críticas e a aceitar a liberdade de expressão e a livre criação literária e
ficcional, os fundamentalistas islâmicos não toleram essa mesma liberdade de
criticar a sua fé e o seu profeta, fazendo ameaças, atentados, lançando fatwas a quem enfrentar o fanatismo.
Ao não
publicar o livro de Sherry Jones, a Random House está a ceder ao terrorismo
islâmico para assim assegurar a segurança de todos os envolvidos na publicação
do livro e a não proporcionar a leitura de mais uma obra literária que
romanceia a vida de figuras históricas com uma posição relevante na religião
muçulmana, como Aisha, considerada a mãe dos crentes islâmicos, e o profeta
Maomé. A história poderia ter o seu interesse enquanto ficção. Coloca-se, sem
sombra de dúvida, o problema da liberdade de expressão, uma vez que a editora
foi impelida a não publicar o livro por haver um segmento da população que
poderia reagir violentamente. Por outro lado, devido ao receio da reação da
comunidade muçulmana mais radical, a editora perde uma oportunidade de vender
um livro com potencial comercial que daria lucros à editora.
A história
tem-nos provado que a denúncia dos horrores e das injustiças e a luta pelos
valores universais, entre os quais a liberdade de expressão (pelo menos para o
mundo ocidental) concorrem para a formação de uma nova mentalidade e,
consequentemente, para a evolução da sociedade. Um exemplo disso é a evolução
do feminismo ao longo da história no ocidente, as conquistas que as mulheres ocidentais
foram obtendo. Se os escritores acima referidos como denunciadores e críticos
do fundamentalismo através da escrita não tivessem escrito sobre esses males,
não haveria a esperança de que alguma coisa pudesse mudar no mundo islâmico. A
publicação de livros sobre a vida dos muçulmanos, o fanatismo e as injustiças,
nomeadamente para com as mulheres, os seres mais vulneráveis para a lei
islâmica, é, sem dúvida, um contributo para a liberdade de expressão e para a
consciencialização dos abusos da parte dos membros dirigentes e suas leis. O
mesmo se passa em relação às obras que ficcionam a vida de Maomé.
O escritor e poeta Marwa
El-Naggar do “IslamOnline.net” chegou a defender a publicação de The Jewel of Medina em defesa da
liberdade de expressão e da criação literária, ainda que reconheça os desvios
da autora face à história.
Qualidade
literária da obra vs impacto comercial
A Porto
Editora recusou a publicação do romance com o argumento da qualidade literária.
Se lermos com atenção o comunicado do consultor da Porto Editora sobre o livro,
ficamos a saber que a recusa é justificada pela deturpação de factos
históricos, pelo carácter provocador e pela trivialização da vida do profeta e
do islamismo. O consultor da editora considerou que o livro podia ser
considerado ofensivo. Não há qualquer referência ao receio de violência por
parte da comunidade muçulmana mais radical.
Teoricamente,
um bom editor deve escolher os melhores livros a fim de chegar ao maior número
de leitores. No entanto, a qualidade literária não é o único argumento válido
para o mundo editorial, pois o mundo editorial é um negócio e todas as editoras
desejam ter lucro e nem sempre os livros com maior qualidade literária são os
mais vendidos, excetuando os casos de autores reconhecidos como José Saramago,
António Lobo Antunes ou Miguel Sousa Tavares. A decisão de editar ou não um
livro pode não ter que ver com o gosto e a vontade dos editores, pois é
necessário estar atento às tendências do mercado, acompanhar os gostos dos
leitores e perceber o impacto comercial que cada livro poderá ter. Na verdade,
as editoras também estão sujeitas às modas e, se querem ter sucesso, devem ter
em conta os livros que mais vendem, apostando num trabalho de seleção de livros
a publicar feito com todo o rigor, prevendo se o livro é vendável. Numa altura
em que está tanto na moda os livros sobre temas muçulmanos (mulheres oprimidas,
crianças mal tratadas, a religião islâmica), The Jewel of Medina poderia ser um caso de sucesso editorial, tal
como Manuel Alberto Valente afirma. No entanto, para a editora, o critério da
qualidade literária e o facto de poder ser ofensivo para a comunidade muçulmana
teve mais peso do que o valor comercial do livro. Na verdade, a formação, os
princípios e os valores também não estão ausentes do mundo dos livros pois
editar livros não é só para dar lucro e todo o editor gosta de editar livros de
que se orgulhe.
A recusa da
publicação do livro de Sherry Jones foi justificada com o critério de qualidade
literária. Parece-me, no entanto, que este argumento perde peso perante o
catálogo da Porto Editora. Apesar de ser uma referência a nível de material
didático, é errado pensarmos que apenas publica potenciais Prémios Nobel da
Literatura, pois, se virmos o catálogo, apercebemo-nos que publica também muita
literatura de pouca qualidade. Da lista de livros publicados encontra-se o
livro Vocês sabem do que estou a falar,
de Octávio Machado (ex jogador e treinador do Porto e do Sporting); São Cipriano, de Cipriano, o feiticeiro;
Eu Sou o Poder da Mente, de Aldina
Rocha; Luiz Felipe, o Homem Por Trás de
Scolar, de José Carlos Freitas e O
Código Quique (treinador do Benfica), de Rui Pedro Brás.
Conhecendo nós a frase de Manuel Alberto Valente « É preciso publicar o
que dá para poder publicar o que não dá », torna-se estranho que não tenha
aceitado publicar uma obra como The Jewel
of Medina. Ainda que o livro de Sherry Jones tenha sido considerado trivial
e menosprezando o caráter histórico e religioso do profeta Maomé, este poderia
ter sido editado pela Porto Editora, tendo em conta as suas publicações.
Um aspeto a
ter normalmente em conta pelas editoras quando editam um livro é saber se é a
primeira obra do autor. No caso de The
Jewel of Medina, é o primeiro romance da autora e não sabemos se este
critério terá tido algum peso para Manuel Valente, que poderá ter considerado
arriscada a sua publicação e por isso ter aceitado a opinião do consultor.
Porém, depois da polémica surgida nos EUA a propósito
do livro de Sherry Jones, a publicidade ao livro estava feita e muitos leitores
estariam curiosos para conhecer o livro e o número de vendas seria grande.
Será que o livro é realmente
pobre a nível literário e de escrita? A Beaufort Books considera que o livro
tem a sua qualidade literária.
A divergência
de opiniões sobre o livro de Sherry Jones tem que ver com o facto de um bom
livro não ter o mesmo significado e valor para um editor ou para outro (Les métiers de l’Édition, 2002). Tanto a
Random House como a Porto Editora entenderam que The Jewel of Medina não tinha qualidade literária para ser
publicado e a Random House assumiu o receio de represálias pelos muçulmanos
radicais. Do outro lado estão as editoras Beaufort Books e Gibson Square que
entenderam por bem publicar a obra, considerando ambas que a obra tem qualidade
literária e interesse pelo conhecimento da história árabe (dentro do que há de
verídico na obra) e pela perspetiva aberta sobre o mundo oriental. A Gibson
Square defendeu convictamente a liberdade de expressão e de criação literária.
Para a Beaufort Books, a
autora revela falta de conhecimentos históricos básicos, mas revela também exatidão
e respeito pelo Islão na sua história. A editora considera que a autora toma uma
grande liberdade ao representar a História, adaptando-a do modo que melhor
convinha ao desenvolvimento do romance.
The Jewel of Medina é um romance histórico. Como se define um
romance histórico? O romance histórico é uma narrativa literária ou artística sobre
factos históricos reais ou inventados a partir de categorias estéticas. Não é a
representação da narrativa histórica científica, mas um produto artístico de
caráter ficcional por misturar acontecimentos verdadeiros (históricos) com
outros ficcionados, sendo por isso um género ambíguo. Enquanto produto
artístico e estético, a sua finalidade é proporcionar o prazer estético da
escrita e da leitura, aliado ao conhecimento da história. O romance histórico
não é uma réplica exata dos factos históricos, pois não está obrigado à
verdade, tendo liberdade para explorar esteticamente os factos históricos e as
suas possibilidades. Não fazem, portanto, sentido, na definição de romance
histórico termos limitadores como “fidelidade”, “verdade aproximada”,
“reprodução” ou “reconstituição”, “dados rigorosamente históricos”. Neste
sentido, não existem limites ficcionais para o romance histórico.
A autora reconhece os desvios
dos factos históricos e conta que inicialmente tinha previsto um enredo mais
fiel à história de Aisha e Maomé, mas que o editor a aconselhou a alterá-lo
porque não seguia as caraterísticas de um romance. Defende-se ainda dizendo que
a ficção se encontra no domínio da realidade que é subjetiva e, como tal, a
obra não podia ser uma réplica exata dos acontecimentos históricos. The Jewel of Medina apenas tem de respeitar
as caraterísticas próprias do seu género, um romance histórico.
Abordaremos
alguns exemplos de passagens em que a autora não segue aquilo que é referido
como verdade nos documentos históricos. Segundo os relatos históricos, num dia em que Aisha e o profeta se
deslocavam numa caravana, Aisha perde acidentalmente o seu colar, voltando para
trás para o apanhar. A caravana avança sem que Maomé se aperceba de que ficara
para trás. Entretanto, um homem, Safwan ibn Al-Mu’attal, leva Aisha para sua
casa, um tanto a contragosto dela. Aisha é depois acusada de adultério. No
livro, a autora transforma estes factos para tornar a história mais atraente:
Aisha estava apaixonada por Safwan ibn Al-Mu’attal e diz a Maomé que tinha
perdido o colar para poder voltar atrás e fugir com o seu amado. Mais tarde
apercebe-se do quanto estava errada e volta para Maomé.
Denise
Spellberg considera que as cenas de amor entre Aisha e Safwan ibn Al-Mu’attal
não correspondem à realidade e considera-as de mau gosto e sensacionalistas.
Antes de mais, a posição de Spellberg revela um juízo de caráter estético e
ético. Os valores são outro campo que tem necessariamente implicações na
decisão de publicar ou não livros, dado o papel cultural e espiritual do livro.
Se o editor considerar um livro que lhe foi entregue para analisar um mau
exemplo, condenável ou com efeitos perversos na sociedade, sendo livre de
publicar ou não esse livro, o editor não o irá publicar. A autora justifica a
sua opção dizendo que usou a relação de Aisha e Safwan ibn Al-Mu’attal como uma
metáfora pois pretendia mostrar o quanto Aisha tinha amadurecido, deixando de
ser uma mulher controlada pelos homens e suspirando por eles para se
transformar numa mulher com o controlo da sua própria vida, mais consciente e
com mais sabedoria. Para Spellberg, o romance, devia respeitar os factos
históricos e não optar por uma representação errónea da vida de Aisha e por uma
estratégia de marketing baseada no
sensacionalismo.
Uma outra
metáfora utilizada por Sherry Jones está associada à espada que Aisha enverga
no romance. A história islâmica não representa em nenhum momento Aisha com uma
espada, nem tal seria possível. A autora justifica a sua opção referindo que a
espada é uma metáfora que simboliza o amadurecimento de Aisha.
Uma outra
passagem criticada pela académica por não ser fiel à realidade é quando Aisha
disputa a posição de hatun (a chefe
das mulheres de Maomé), pela qual tem obsessão e que é uma tradição turca sem
qualquer base no Islão. Quando alcança esse estatuto, o profeta e as suas
outras mulheres ajoelham-se perante Aisha, que também não faz parte da cultura
islâmica. A autora defende a passagem dizendo que este é um estratagema próprio
da ficção, que importou da tradição turca para mostrar a rivalidade dentro do harém.
Para Denise
Spellberg é preocupante o facto da autora ter posto na boca de Aisha uma
história que não é verdadeira, que falsifica a realidade como sendo a história
da personagem. No entender desta académica não é correcto distorcer factos
históricos
Aisha é
representada como se vivesse no século XXI pois possui determinadas caraterísticas
impossíveis para o século VII e muito menos no mundo oriental. Aisha aparece
muito ocidentalizada pois sonha com a liberdade, o poder e o controlo da sua
própria vida, não aceita o casamento que lhe foi imposto e que a reduz a
objecto, não aceita a reclusão, que não se aplicava na era islâmica, não aceita
o hatun nem o durra (a segunda mulher) nem aceita a superioridade dos homens
sobre as mulheres.
Instigado por
Umar Al-Khattab, Maomé obriga as suas mulheres a cobrir a cara, depois de ter
sido lido o versículo respeitante ao véu. Aisha sente que lhe foi roubada a
liberdade. A autora considera que Aisha pode ter pensado dessa maneira e afirma
que, ao escrever o romance, teve a intenção de a representar como um modelo de
mulher, e mostrar que as mulheres tinham mais poder na era da formação do Islão
do que habitualmente pensam os ocidentais, afirmando ainda que tinham mais
poder do que atualmente.
Outro motivo
de crítica é o facto da autora ignorar a representação utópica do período da
formação do islamismo, que não tem em conta as maquinações políticas e
históricas da época e representar as personagens islâmicas como humanas com
seus defeitos e fraquezas, salientando os defeitos.
Outra falha da
autora, segundo as vozes críticas, tem que ver com a personagem Caliph Umar ibn
al-Kattib, conhecido na história árabe por ser muito restrito com as mulheres e
por ter participado na primeira guerra civil islâmica. No romance de Sherry
Jones é um vendedor de chapéus de mulher, ávido de poder.
O romance faz
crer aos leitores que os casamentos de Maomé mais não são que um capricho para
satisfazer a luxúria do profeta. As mulheres são representadas como de uma
grande beleza, cada uma tem a sua cor de olhos e de cabelo e provêm das mais
diversas partes do mundo. A autora afirma que se os leitores têm esta impressão
é porque este é o ponto de vista de Aisha, que revela ciúmes ao longo do
romance.
O romance
mostra-nos uma Aisha que nada tem a ver com um anjo, ciumenta, de acordo com os
relatos históricos, mas o facto da personagem ser representada como « impulsiva, egocêntrica, mentirosa e
vingativa que quebra as suas promessas e só deseja a glória no campo de batalha
»[9] não
corresponde à verdade, uma vez que Aisha é historicamente reconhecida como
sendo sincera e honesta.
Em suma, os
argumentos de Denise Spellberg contra a publicação do livro prendem-se com o
facto da história ser uma falsificação dos factos históricos e da personagem de
Aisha, dando uma imagem errada da religião e da história islâmica a todos os
que não as conhecem bem.
Se no entender
da especialista em Aisha esta é uma história falsa que engana todos os que
ignorem a personagem, distorcendo a realidade e a essência da personagem e,
consequentemente a imagem da religião, a Beaufort Books e a Gibson Square
entendem que é legítimo ficcionar a partir de personagens históricas. Em causa
está não só a questão do género literário da obra, mas também a questão da
liberdade de expressão e de criação literária.
Ainda que haja
muitas passagens no livro que não podem ser entendidas como pertencendo à
realidade histórica, também fazem parte do livro passagens que têm em conta a
verdade histórica. Um exemplo disso é a representação de Maomé como um líder
sabedor, amável, compassivo, pela igualdade e não violento. Não podemos negar
que a história de Sherry Jones, feita a partir de factos históricos é uma
reinvenção, uma outra história, ficcional, que pode ser apreciada pela sua
grande beleza e valor literário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEGENDRE, Bertrand, Les Métiers de l’Édition, Paris: ECL,
1999.
« The Jewel of Medina, a
fictionalized version of the life of Lady Aisha, has reopened the debate on
portraying Islam’s sacred figures »
in « Beaufort Books
», 16 de Outubro de 2008, <
http://www.beaufortbooks.com/news.
php?id=44 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
» Gibson Square buys Jewel of Medina for UK » in « Bookseller.com », 4 de Setembro de 2008, < http://www.thebookseller.com/news/6_6332-gibson-square-buys-jewel-of-medina-for-uk.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009.)
« The Jewel of Medina, a
fictionalized version of the life of Lady Aisha, has reopened the debate on
portraying Islam’s sacred figures »
in The Wall Street Journal, 9 de Agosto de
2008, < http://online.wsj.com/article/
SB121824366910026293.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
« I Didn't
Kill 'The Jewel of Medina'
»
in The Wall Street
Journal, 9 de Agosto de 2008, < http://online.wsj.com/article/SB121824
366910026293.html?mod=googlenews_wsj > (acedido em 19 de
Fevereiro de 2009).
« You Still Can't Write About Muhammad » in The Wall Street Journal, 6 de Agosto de 2008, < http://online.wsj.com/article/SB_121797979078815073.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
« Livro de Sherry Jones é publicado nos EUA »
« Livro de Sherry Jones é publicado nos EUA »
in Diário
de Notícias, 8 de Outubro de 2008, < http://dn.sapo.pt/2008/10/08/artes/livro_
sherry_jones_e_publicado_eua.html > (acedido em 19 de Fevereiro
de 2009).
« Empresa alega falta de qualidade
da obra, Porto Editora recusa editar
romance sobre Maomé »
in Público, 15 de Setembro de
2008, < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=13
42832 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
« Literatura: Romance sobre
casamento de Maomé sai em Outubro por nova editora »
in « literatura pnet », 4 de
Setembro de 2008, < http://www.pnetliteratura.pt/noticia.asp?id
=95 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
« Porto Editora desiste de
publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais polémicos do ano » in « Bibliotecário de Babel », < http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
« Literatura: Porto Editora
recusa editar romance sobre Maomé por “falta de qualidade” » in «
Notícias.rtp.pt », 15 de Setembro de 2008,
< http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?arti
cle = 363223&visual=26& tema=5 > (acedido em 19 de
Fevereiro de 2008).
« Livro polêmico sobre esposa de
Maomé é lançado nos EUA »
in « BBC Brasil.com » < http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/0810
07_livromaome.shtml > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
« Casa do editor
britânico da Gibson Square alvo de tentativa de fogo posto »
in Público, 29 de Setembro de 2008, < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=13
44287&idCanal=14 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[1] Tradução de uma citação do artigo « You Still Can't
Write About Muhammad », in The Wall
Street Journal , 6 de Agosto de 2008, <
http://online.wsj.com/article/SB121797979078815073.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[2] « Casa do editor britânico da Gibson Square
alvo de tentativa de fogo posto », in Público,
29 de Setembro de 2008, < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1344287&idCanal=14
> (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[3]
Traduzido do artigo « Gibson
Square buys Jewel of Medina for UK », in « Bookseller.com », 4 de Setembro de
2008, < http://www.thebookseller.com/news/6332-gibson-square-buys-jewel-of-medina-for-uk.html >
(acedido em 19 de Fevereiro de 2009.)
[4] « Porto Editora desiste de publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais polémicos do ano », in « Bibliotecário de Babel », < http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[5] « Empresa alega falta de qualidade da obra, Porto Editora recusa editar romance sobre
Maomé », in Público, 15 de Setembro
de 2008, < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=13
42832 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[6] «
Porto Editora desiste de publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais
polémicos do ano », in « Bibliotecário de Babel », < http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[7] «
Porto Editora desiste de publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais
polémicos do ano », in « Bibliotecário de Babel », <
http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[8] « Livro de Sherry Jones é publicado nos EUA », in Diário de Notícias, 8 de Outubro de 2008, < http://dn.sapo.pt/2008/10/08/artes/livro_
sherry_jones_e_publicado_eua.html > (acedido em 19 de Fevereiro
de 2009).
[9] « The Jewel of Medina, a
fictionalized version of the life of Lady Aisha, has reopened the debate on
portraying Islam’s sacred figures », in « Beaufort Books », 16 de Outubro de 2008, <
http://www.beaufortbooks.com/news.php?id=44
> (acedido
em 19 de Fevereiro
de 2009).